Livro: ‘Getúlio Me Disse…’

O livro “Getúlio Me Disse…” foi escrito pelo jornalista Armando Edgar Pacheco (Armando Pacheco) e publicado pela Editora Aurora, Rio de Janeiro, em 1949. A publicação apresenta reportagens colhidas pelo repórter quando esteve na fazenda de Santos Reis, em São Borja, Rio Grande do Sul, com Getúlio Vargas.

Abaixo você encontra trecho da orelha e prefácio do livro “Getúlio Me Disse…”, ambos escritos por Mário Cordeiro, em 1949.

Capa do livro "Getúlio Me Disse...", por Armando Pacheco - Editora Aurora - Rio, 1949
Capa do livro “Getúlio Me Disse…”, por Armando Pacheco – Editora Aurora – Rio, 1949

Orelha do livro, por Mário Cordeiro

Desde o dia 29 de outubro de 1945 que o ex-presidente Getúlio Vargas, recolhido à vida privada em sua fazenda de São Borja, vem-se abstendo de falar à imprensa sobre a nossa situação política. Jornalistas brasileiros e estrangeiros cortaram em várias direções os ares dos Pampas em busca de palavra autorizada do ex-chefe do governo sem que obtivessem êxito em sua missão. E quando alguns deles lograram chegar a S. Exa. nada de sensacional conseguiram colher da sua parte para o imenso, o crescente público dos leitores getulistas. Agora, porém, eis que o conhecido jornalista Armando Pacheco, um dos ases da reportagem contemporânea em extraordinário “furo” continental vem de entrevistar o sr. Getúlio Vargas e de maneira inédita, revelando-nos fatos e desabafos fabulosos do atual senador gaúcho, pela primeira vez apresentados por um profissional da “sexta arma”. “Getúlio Me Disse…” é o livro resultante de uma permanência de uma semana do repórter Armando Pacheco na fazenda do senador Getúlio Vargas, e que estamos publicando a fim de que os milhares de amigos e admiradores do ex-presidente mais uma vez tomem conhecimento de como vive atualmente em seu exílio o grande brasileiro. Trabalho de repórter, eis “Getúlio Me Disse…”


Prefácio de Mário Cordeiro em 1949

O Repórter Armando Pacheco

O repórter é, sem dúvida, o mais proletário dos profissionais de imprensa. Enquanto os seus colegas ficam na redação, trabalhando, febrilmente, a fim de fornecer à cidade pão espiritual, ele se transforma num autêntico estivador, colhendo nas ruas o material vivo e palpitante com que plasma o jornal moderno, trazendo para as suas páginas trepidantes o colorido rubro do crime, os fatos sensacionais, os acontecimentos políticos, enfim, a nudez forte do flagrante. Afrontando os exploradores, denunciando os inimigos do povo, desafia os poderosos, contando somente com a sua pena, cuja, fraqueza desaparece sob a flama das reivindicações coletivas. A sua faina incessante e desassombrada leva-o a todos os recantos. Nada detém os seus passos arrojados.

Em toda parte – becos, morros, subúrbios, bairros granfinos e proletários – ele está presente, vigilante, humanizando o organismo do jornal com as suas reportagens feitas com nervos, suor, lágrimas e sofrimentos!

Não fazemos nenhum favor ao repórter, quando proclamamos as virtudes desse modesto e abnegado auxiliar de profissão da qual Alcindo Guanabara foi mestre incontestável.

Há muitos anos, um adolescente, fascinado pela nobre missão do jornalista, desceu ao fundo da baía de Guanabara, dentro de plúmbeas roupas de escafandrista para fazer a reportagem completa do náufrago de uma barca da Cantareira, em cujo bojo pereceram numerosos alunos do colégio Salesiano, de Santa Rosa. O autor dessa façanha que emocionou a cidade de outrora, é o velho jornalista Orestes Barbosa, inspirado criador de lindíssimas canções líricas que enriquecem a nossa poesia popular.

É assim o repórter. Quando está em jogo o interesse público, ele desconhece o perigo. A sua alma é a própria alma da coletividade, por isso que sente as suas dores e vibra com as suas paixões;

Armando Pacheco, o talentoso autor de “Getúlio me disse”, é cem por cento repórter. Tem a intuição do que interessa ao público, do que fala à alma emotiva das massas, sedenta de novidade, amante da justiça.

Armando Pacheco nasceu predestinado. Ele trouxe do berço, as terras cálidas da velha Bahia, o espírito irrequieto e altruísta do repórter. Desde os seus primeiros trabalhos, na imprensa carioca, afirmou-se um legítimo valor, um profissional honesto, operoso e abnegado.

Creio não ser preciso recordar, nestas linhas, os interessantes inquéritos promovidos por esse rapaz inteligente e nervoso em todos os setores da vida desta dinâmica metrópole. Eles estão bem vivos na lembrança de nossa população, na gratidão daqueles cujos interesses foram realçados pelo vigor de sua pena generosa.

Em Armando Pacheco não há sede de sensacionalismo, mas sim, o propósito honesto de ser útil aos seus semelhantes.

Não faz muito tempo, esse Jack London caboclo andou pelas artérias líquidas do lendário rio Amazonas em contato íntimo com seus habitantes, visitando as malocas dos Bôca Negras.

Depois de publicados aqui as suas empolgantes reportagens sobre o “Inferno Verde”, houve entre nós um movimento de simpatia e solidariedade pelos nossos esquecidos patrícios daquela remota região, movimento que obteve ampla ressonância na Câmara dos Deputados, através da palavra do ilustre parlamentar, sr. Antonio Silva. Sarah Marques, a culta e cintilante cronista carioca, ao registrar a epopéia do repórter pelos “Caminhos sem fim da Amazônia”, disse: “Voltou magro e pálido como um bonzo Shangai, os olhos maiores e mais longos no rosto cavado, brilhando de febre, doente do fígado, dos nervos, de tudo”.

Agora, com a publicação de “Getúlio me disse”, Armando Pacheco revela-nos uma nova faceta de seu talento e da sua tenacidade profissional.

Com efeito. Nesse agitado momento político nacional, foi ele o único repórter que conseguiu vencer uma verdadeira floresta de obstáculos, indo até os Pampas a fim de transmitir ao Brasil a palavra autorizada de Getúlio Vargas, cuja popularidade crescente decorre não sei se do próprio prestígio ou se do desprestígio de seus adversários.
Junho de 1949
Mário Cordeiro.